Não! Infelizmente, esse tema ainda não é desnecessário ou redundante. Ainda precisamos falar sobre finanças para mulheres. Ainda e sempre. Pelas gerações passadas, pelas atuais e pelas próximas que virão.
Tabus, mitos, inverdades e abusos psicológicos são apenas a ponta do iceberg, nesse assunto que assombra a vida de várias mulheres e que deveria ser tão corriqueiro quanto qualquer outro. A dependência financeira ainda assola diversos lares e, com ela, a violência física e psicológica, a falta de autoestima e de liberdade – para ser, estar e ter o que quiser.
Precisamos falar não só sobre finanças femininas, mas também sobre educação, liberdade e saúde financeira para mulheres. Entender seus contextos, seus traumas, suas dificuldades e facilidades. Despertar para o que deveria ser de direito, mas que muitas vezes não é: autonomia sobre seu próprio dinheiro.
✱ O que vamos abordar nesse post ✱
- Mitos sobre finanças para mulheres
- Mulheres e investimentos: uma dupla possível
- Como educar financeiramente as novas gerações femininas?
- Livros sobre finanças para mulheres
Mitos sobre finanças para mulheres
Que mulher nunca ouviu uma piadinha de mau gosto sobre dinheiro? Muitas de nós ainda enfrentam situações como essa no ambiente de trabalho, na relação com parceiros ou mesmo com a família. Ao longo da história, o papel da mulher esteve muito distante da gestão das finanças e, consequentemente, longe do poder sobre elas.
Quando muito, uma mulher poderia trabalhar, quem dirá administrar o dinheiro que recebia. Por isso, muitos estigmas e crenças limitantes foram sendo injetados na sociedade e, por incrível que pareça, ainda nos perseguem.
Já parou para pensar se você mesma, alguma vez, acabou reproduzindo ou assumindo pra si esses pensamentos? Calma, isso não é culpa sua! É responsabilidade de uma sociedade que ainda precisa percorrer um bom caminho em prol da independência e empoderamento feminino.
Mas, como fazer isso? O bom seria começar desconstruindo alguns mitos sobre finanças para mulheres.
❌ Mito #1: “Mulheres são mais consumistas do que homens”
Segundo uma análise mais abrangente é comum que mulheres costumem, na verdade, comprar em “porções” menores e mais seguidas, enquanto os homens compram mais esporadicamente, mas com ticket médio bem maior.
Ainda assim, estaríamos generalizando um comportamento que não deveria ser julgado por gênero, já que pode variar consideravelmente de pessoa para pessoa por conta de outros fatores: histórico familiar, pouca educação financeira, adicção ou outras questões comportamentais.
❌ Mito #2: “Mulheres não sabem lidar com dinheiro”
Você sabia que a relação da mulher com as finanças é extremamente recente? Apenas em 1962 o público feminino passou a ter direito de possuir um CPF no Brasil, ou seja, apenas neste ano as mulheres puderam abrir contas bancárias, por exemplo.
Se formos analisar dados de endividamento no país, percebemos que homens compõem a maioria dos inadimplentes. Mas, ainda que a diferença seja pouca entre homens e mulheres, algo se destaca: a diferença salarial por gênero assombra boa parte das mulheres, o que acarreta em maiores dívidas em quesitos essenciais, como luz, água e gás. Isso significa não saber lidar com o dinheiro? Não necessariamente. Mas, sem dúvida, significa que nosso país ainda está distante de uma equidade no quesito salarial.
❌ Mito #3: “Mulheres não pensam sobre dinheiro de forma racional”
“Mulher não pode ver um par de sapatos que já quer comprar”, “Minha mulher me levou à falência com tantas compras”, “Mulher não pode ver uma promoção”. Provavelmente você já ouviu algumas dessas frases e suas variações. A ideia de que a mulher gasta de forma mais impulsiva e frenética obviamente também é um grande mito.
Se analisarmos historicamente percebemos que, até meados dos anos 1960 (quando a presença da mulher no mercado de trabalho ainda era quase insignificante), o papel da mulher era meramente de consumidora – já que o marido era o provedor da casa. Juntando isso aos apelos de consumo do vasto mercado de produtos femininos, e da pressão estética e social a qual a mulher é constantemente submetida, temos um conjunto de fatores que contribuem para esse pensamento limitante sobre a relação da mulher com as finanças.
❌ Mito #4: “Mulheres não sabem matemática”
Essa é uma crença que impacta, sim, na relação das mulheres com o dinheiro e, mais do que isso: impacta diretamente no mercado de trabalho e na educação acadêmica. Mulheres são ensinadas há séculos que a área de exatas não pertence e não pode pertencer a elas. Vide o número de graduados em Engenharia, Computação, Economia e Tecnologia de modo geral.
Um estudo realizado pelo Banco UBS apontou que 93% das brasileiras acreditam que seus companheiros entendem mais de dinheiro do que elas mesmas e acabam não participando da gestão financeira do lar – mesmo que tenham interesse. Somos induzidas a acreditar nessa verdade, mesmo de forma indireta, e isso acarreta em diferentes níveis de problemáticas.
❌ Mito #5: “Mulheres querem distância de investimentos”
Mesmo que ainda sejam minoria nesse mercado, somente em 2020 a presença de mulheres no mercado de investimentos cresceu 400%. Isso demonstra que não há propriamente uma aversão ao tema, mas sim, uma falta de incentivo, apoio e educação financeira.
Tudo plenamente justificável, considerando os pontos que falamos anteriormente, certo?A presença no mercado de trabalho, a quantidade de mães solo e o aumento do empreendedorismo feminino estão estimulando cada vez mais um novo perfil de investidora.
Mulheres e investimentos: uma dupla possível
Uma pesquisa realizada em parceria com a ONU Mulheres fez uma pergunta bastante impactante para mais de 2600 entrevistadas: “o que é ser rica para você?”. 63% das mulheres responderam que ser rica é “conseguir viver somente com meu dinheiro investido”. Essa resposta ficou a frente de outras como “ter mais de R$1 milhão”, “ter casa própria” e “ter um companheiro”.
Ainda que a intenção de investir esteja presente, a realidade feminina ainda patina em aspectos como a falta de reserva financeira (algo que aparece com mais força na faixa dos 50 anos), diálogo sobre o tema e a famosa crença de que para começar com investimentos é preciso ter muito dinheiro.
Tanto é que 61% das mulheres seguem investindo na poupança, por acharem que a quantia disposta para aplicação não é compatível com fundos de maior risco. A imagem da renda variável enquanto possibilidade para “homens corajosos e impulsivos” segue forte, ainda que as mulheres considerem que o cenário de riqueza esteja nesse tipo de atitude.
Falamos anteriormente sobre a crescente presença feminina no mercado de investimentos, impulsionada, sobretudo, por influenciadores e conteúdos digitais, como blogs, e-books, canais e podcasts sobre investimentos. A maioria segue adquirindo conhecimentos sobre como investir em meios digitais, cursos, consultorias e mentorias personalizadas.
Temos ainda um longo caminho a ser percorrido em prol dessa desmistificação, mas é sempre bom lembrar daquelas que vieram antes de nós e se inspirar com grandes mulheres investidoras da história.
Eufrásia Teixeira Leite
A brasileira foi uma das primeiras mulheres do mundo a investir na bolsa de valores, na virada do século 19 para o 20. Ela multiplicou a fortuna que havia herdado de seus pais tornando-se uma das mulheres mais ricas do seu tempo.
Muriel Siebert
Primeira mulher a possuir um assento na Bolsa de Valores de Nova York e a primeira mulher a chefiar uma das firmas-membro da NYSE. Ela se juntou aos 1.365 membros masculinos da bolsa em 1967.
Geraldine Weiss
Cofundadora da Investment Quality Trends e ficou mundialmente conhecida pelos apelidos “A grande Dama dos Dividendos” e “a Detetive dos Dividendos”. Os apelidos surgiram principalmente por seus trabalhos sobre investir focando nos dividendos das companhias.
Luiza Helena Trajano
Uma das maiores empresárias do mundo na atualidade. Sua rede varejista é uma das mais bem cotadas na Bolsa de Valores. É referência em empreendedorismo, gerenciamento de negócios e investimentos.
Oprah Winfrey
Além de uma apresentadora de muito sucesso, Oprah também é uma excelente investidora, sendo uma das mais bem sucedidas do mundo. Além disso, foi a primeira mulher negra no mundo a se tornar bilionária.

Como educar financeiramente as novas gerações femininas?
Sabe-se que a educação financeira tem boa parte do seu alicerce no ambiente domiciliar. É dentro de casa que os conceitos básicos de comportamento sobre o dinheiro, organização das finanças e formas de economia são estabelecidos.
Quanto antes educarmos nossas meninas a lidarem com o dinheiro de forma transparente e saudável, antes teremos uma geração feminina verdadeiramente empoderada na esfera financeira.
Sabemos, claro, que essa não é uma tarefa fácil – e começa com a quebra de tabus, paradigmas e mitos dos próprios progenitores. Evitar reproduzir crenças limitantes, envolver meninas e adolescentes nos processos financeiros, estimular o aprendizado da matemática e conversar muito a respeito do tema são alguns dos caminhos possíveis.
É preciso lembrar também que o exemplo é o melhor e mais efetivo educador. Uma garota que vê dentro de casa a prática de dependência ou violência financeira, tende a entender que esse é o padrão. Por isso, a importância de pôr luz sobre o assunto e transformar a realidade do lar.
Garotas com uma boa educação financeira tendem a se tornar mulheres com maior liberdade de escolha e mais autonomia e confiança. Isso está embasado em uma série de estudos, pesquisas e investigações das áreas de pedagogia e psicologia infantil.
Livros sobre finanças para mulheres
Outra ótima forma de incentivar a relação entre mulheres e finanças são as leituras sobre o tema. A lista de indicações é vasta, mas selecionamos aqui algumas opções bem interessantes que podem fazer parte da sua lista de leituras.
Ganhar, gastar e investir

Denise Damiani e Cynthia Almeida, 2016.
Este livro reúne todos os conceitos que você precisa aprender para administrar seu dinheiro com eficiência e oferece orientações para temas delicados como casamento e divisão de gastos, maternidade e trabalho, mesada para os filhos, etc. Também inclui histórias de mulheres anônimas e famosas.
A rica simplicidade

Maiara Xavier, 2018.
Este livro é uma jornada de autodescoberta para o enriquecimento, que guiará o leitor por uma jornada de autoconhecimento para descobrir seus verdadeiros objetivos, encontrar motivação e conquistar sua própria riqueza.
É da minha conta!

Flávia Padoveze, 2015.
Este livro foi feito para mulheres que querem aperfeiçoar seu relacionamento com o dinheiro, melhorar a qualidade do uso do próprio salário ou simplesmente querem administrar de forma mais sensata os orçamentos da sua vida pessoal, da casa ou da família.
Virada Financeira

Patrícia Lages, 2015.
Este livro propõe uma mudança de rumo. Uma transformação sólida na forma como você gerencia seu dinheiro com profundas implicações para as outras áreas de sua vida. São dicas valiosíssimas, transmitidas de forma bem-humorada e simples, sem “economês” ou missões impossíveis.
Mulher na Bolsa

Caroline Daher, 2020.
Este livro foi idealizado para mulheres que nunca fizeram investimentos, mas tem muita vontade de organizar a vida financeira e fazer o seu dinheiro se multiplicar e trabalhar por conta. A autora descomplica ao máximo a dinâmica do mundo dos investimentos e mostra que não é nenhum bicho de sete cabeças.
Como as mulheres chegam ao topo

Sally Helgesen, 2019.
Neste livro, são identificados os 12 hábitos que atravancam as mulheres à medida que tentam avançar, mostrando-lhes porque o que funcionou para elas no passado pode na verdade estar sabotando seu sucesso futuro. É leitura essencial para as mulheres que estão prontas para avançar para o próximo nível.
E então, pronta para dar o seu próximo passo? Compartilhe suas experiências com finanças e envie esse artigo para amigas, mães, colegas de trabalho e outras mulheres que podem se beneficiar dele. Somos rede de apoio, juntas vamos (ainda) mais longe! ✊
