Comportamento Financeiro

Educação Financeira Infantil: como falar sobre dinheiro com crianças?

Educação Financeira Infantil: como falar sobre dinheiro com crianças?

Joice Sperandio

Joice Sperandio

Tudo que é estimulado desde cedo tem grandes chances de ser naturalizado e incorporado na rotina de uma forma mais saudável. Não deveria ser diferente quando o assunto é educação financeira infantil: afinal, a maioria dos tabus que envolvem dinheiro em nossas vidas poderiam ser evitados lá atrás, na nossa infância e adolescência.

Para as novas gerações, existe a possibilidade de fazer diferente. À medida que a disciplina de finanças passa a ser incorporada aos poucos na grade curricular, os pais e cuidadores podem (e devem) conversar e discutir sobre o assunto também dentro de casa. 

É claro que essa não é uma tarefa fácil, e que pode ser aprendida da noite para o dia, mas pequenos hábitos e comportamentos podem fazer uma grande diferença em um desenvolvimento infantil pautado na transparência, entendimento e saúde financeira.

Nesse post, vamos conversar a respeito da educação financeira para crianças, e apontar algumas sugestões para já sair praticando. Lembrando que toda e qualquer dica precisa ser avaliada pelos responsáveis em educar e adaptada ao contexto e realidade familiar. Foque na individualidade da criança, evite comparações e saiba que você sempre estará fazendo o seu melhor.

✱ O que vamos abordar nesse post ✱

Por que crianças precisam ser educadas financeiramente?

Essa é uma excelente pergunta e, antes de respondê-la, seria legal quebrar algumas objeções que surgem com ela. Primeiro, você pode estar pensando: por que eu deveria tratar de um assunto tão complexo com alguém tão pequeno, que mal têm noção da sua realidade? E para isso, já trazemos uma simples questão: Por que não?

Se falar sobre dinheiro é muito complexo para você, talvez seja a hora de refletir sobre o seu contexto e sua história. Toda a obscuridade por trás da temática financeira deve ser repensada: afinal, falar e pensar sobre finanças é saudável, aproxima você da realização de sonhos, e também pode proporcionar mais conforto e estabilidade. Essa é uma das esferas da vida e merece ser valorizada. 

Logo, por que não falar sobre dinheiro com as crianças? Apresentar o cenário da família, as condições com as quais se vive, o valor de cada coisa, a importância do trabalho, enfim, tudo que estiver conectado com o tema. Não se trata de criar pessoas mercenárias ou interesseiras, mas pessoas que sabem cuidar do que ganham, que buscam por uma vida melhor financeiramente e valorizam o que o dinheiro pode proporcionar. 

Outro pensamento equivocado que muitas vezes aparece é a relação entre educação financeira e economia de dinheiro. Sim, existe essa relação, mas a educação financeira não se resume em ensinar a poupar. Vai muito além disso, abordando aspectos de compreensão do sistema e do dinheiro em si.
Um dado muito interessante que pode estimular no ensino sobre finanças é que 93% dos adultos nunca aprenderam a administrar as próprias finanças, nem na escola, nem em casa. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Axxus, ouviu pais de crianças em idade escolar em cinco capitais do país e reflete a realidade de gerações que simplesmente não sabiam como cuidar do que ganhavam.

A receita ideal do sucesso, nesse caso, é criar uma aliança entre a educação formal (da escola e das instituições) e a informal (a partir do exemplo, dentro de casa). Assim, se aprende na teoria e na prática, incorporam-se os conceitos de uma forma orgânica e se alcança um patamar de conhecimento para a vida.

6 recomendações sobre educação financeira infantil

Abaixo, estão algumas sugestões de como incorporar o tema finanças na rotina das crianças, de uma forma leve e consciente. Entenda o que se adapta à sua rotina.

1. Dê um cofrinho e comece pelo dinheiro físico

O cofrinho é um objeto simbólico que transmite noções de economia, controle, comprometimento e metas de uma forma bastante lúdica. A começar pela escolha de um cofre já pronto, mas que seja de interesse da criança, ou mesmo um fabricado com objetos recicláveis, e construído por ela mesma.

É legal criar uma rotina de alimentação do cofrinho e deixar que a criança também manipule (com higiene) o dinheiro físico e consiga tangibilizar o valor que cada cédula ou moeda possui. Estipular um momento para abrir o cofre, contar o dinheiro e trocá-lo por algo também é muito importante. Crianças maiores conseguem ter uma consciência maior de tempo, ou seja, conseguem esperar com mais paciência por esse momento. Enquanto crianças menores, acabam compreendendo melhor no curto prazo.

2. Crie o hábito da mesada

Assim como o cofrinho deve ser uma propriedade da criança, ela também precisa entender que o dinheiro dentro dele é seu. E aí, entra o comportamento dos pais e cuidadores, que precisa seguir a mesma linha de raciocínio.

Para crianças menores, o ideal é dar uma quantia fixa por semana ou quinzena. Pode ser uma baixa quantia, mas é importante que esteja sempre na mesma faixa, sem muita variação. À medida que a criança for crescendo, e ganhando mais entendimento sobre custos, os pais ou cuidadores podem ampliar a periodicidade para uma mesada.

3. Estabeleça metas (dentro do contexto da criança) 

Aprender a lidar com dinheiro e, principalmente, administrar o que se ganha, é essencial no processo de educação financeira. Por isso, também vale criar junto com a criança algumas metas que sejam interessantes para ela, sempre entendendo a individualidade, perfil e gosto de cada uma.

Abaixo, algumas sugestões de metas de curto (até 03 meses), médio (até 06 meses) e longo prazo (acima de 06 meses). Lembre-se que uma consultoria financeira pessoal também pode ser um bom apoio nesses momentos.

4. Anote os gastos num caderno 

Algo que vale para qualquer idade é ter o hábito de registrar entradas e saídas de dinheiro, para se ter a real noção sobre a saúde financeira. Pensando no contexto infantil, também vale separar um bloquinho de anotações, principalmente quando a criança já receber uma quantia em dinheiro e tiver alguma meta criada. 

Nesses casos, é importante incentivar um controle e, dentro dele, separar o consumo/necessidade do lazer. Assim, ela também já começa a entender e as diferenças entre “precisar de alguma coisa” ou simplesmente “desejar algo”.

5. Ensine a evitar o desperdício

Uma forma bem interessante de ensinar sobre economia de dinheiro é conversar com a criança sobre os custos domésticos. Luz, água, supermercado, enfim, tudo que entra na lista de despesas. Assim, começa-se ter uma noção mais clara sobre o uso do dinheiro e, claro, ganha-se uma aliada contra todo o tipo de desperdício.

Ao saber, por exemplo, que a energia elétrica é paga, a criança pode criar hábitos simples como apagar a luz quando sair de um cômodo, não deixar a televisão ligada quando ninguém estiver assistindo, não desperdiçar alimentos e outros. A partir de uma certa idade, a própria criança pode ajudar na lista de compras do mercado, pode ir com você pagar alguma conta, enfim. O envolvimento pode ser conquistado aos poucos.

6. Dê o exemplo sempre

É claro que a melhor forma de educar, seja em qual esfera for, é dando o exemplo. Sabe-se que crianças aprendem muito mais pelo que veem e notam do que pelo que é imposto e falado. O mesmo vale para as finanças!

E aí, voltamos à questão anterior: o quanto o dinheiro é um tabu na sua vida? O quanto você reflete a respeito do tema e busca ter hábitos mais saudáveis com relação a isso? Saiba que a influência sobre seus filhos é total, tanto para bem quanto para mal. Inclusive, falamos a respeito em um post especial sobre maternidade e finanças. Vale a pena conferir!

Educação financeira por idade: desenvolvimento e evolução

Muitas dúvidas surgem sobre quando é o momento para falar sobre tais temas ou incentivar tais hábitos. Selecionamos aqui algumas indicações de especialistas no tema, pensando em cada etapa do desenvolvimento cognitivo. É claro que, isso também vai variar de criança para criança, mas trata-se de um ótimo começo.

A partir de 4 anos

Nesta idade, o indivíduo ainda não tem a menor noção sobre dinheiro e é por isso que vale começar a incorporar alguns hábitos e conhecimentos no dia a dia:

  • Comece com brincadeiras em casa, como lojinha, restaurante ou supermercado, com transações simbólicas de dinheiro
  • Explique sobre a origem do dinheiro, relacione-o com trocas como trabalho (prestação de serviço, venda de produtos e outros)
  • Comece a diferenciar as coisas que a criança quer e as coisas que ela precisa

A partir de 6 anos

Agora, você pode iniciar o hábito de guardar dinheiro via mesada, quinzenada ou semanada. Esse também é um momento importante de falar sobre metas e objetivos, principalmente de curto e médio prazos.

  • Incentive a anotar os gastos e desejos, além de unir os aprendizados de cálculo
  • Sugira que, antes de comprar algo, a criança possa pesquisar outras opções e valores
  • Permita que a criança se sinta parte de algo, como uma compra ou pagamento de conta

A partir de 10 anos

Nessa idade, você pode começar a trazer noções complementares sobre dinheiro, como empréstimo e investimento, por exemplo. Claro, sempre de uma forma lúdica e adequada para a idade:

  • Brinque de empréstimo com seu filho e mostre a importância do pagamento e cumprimento de promessas
  • Converse sobre salário, sobre os custos do lar e incentive o apoio contra o desperdício
  • Introduza a noção de planejamento e objetivo de longo prazo, para aquisição de bens ou serviços maiores.

Literatura para falar sobre dinheiro com crianças

A contação de história e criação de analogias são excelentes recursos para educar financeiramente de uma forma saudável. Abaixo, estão algumas sugestões de livros para crianças e para pais e cuidadores.

Leituras para crianças

  • O pé de meia mágico – Álvaro Modernell (2007)
  • Como se fosse dinheiro – Ruth Rocha (1984)
  • As sementes da riqueza – Angélica Rodrigues Santos e Rogério Olegário do Carmo (2015)
  • Dinheiro, Dinheirim – Moeda no Cofrim – Itamar Rabelo, Mauro Nogueira e Victor José Hohl (2008)
  • O guia divertido sobre o mundo das finanças (para crianças) – Heidi Fiedler (2018)
  • Dinho e suas finanças – David Hastings (2015)

  • Atividades lúdicas Para educação financeira – Simão de Miranda (2014)
  • Como cuidar do seu dinheiro – Mauricio de Sousa e Thiago Nigro (2020)
  • Almanaque Maluquinho: Pra que dinheiro? — Ziraldo (2013)
  • Dinheiro Compra Tudo? Educação Financeira Para Crianças — Cássia D’Aquino (2016)
  • Meu dinheirinho — Carlos Eduardo Freitas Costa e Fabrício Pereira Soares (2018)
  • O Menino do Dinheiro — Reinaldo Domingos (2013)

Leituras para pais e cuidadores

  • Como falar de dinheiro com seu filho — Cássia D’Aquino (2017)
  • O cérebro da criança — Daniel J. Siegel e Tina Payne Bryson (2015)
  • Ensine Seu Filho a Cuidar do Dinheiro — Susanna Stuart (2009)

[Bônus] Tecnologias de apoio à educação financeira infantil

É claro que a tecnologia também pode ser uma grande aliada nesse processo de aprendizagem. Por isso, é possível investir também com aplicativos ou sites que permitam uma aproximação saudável entre crianças e dinheiro. Abaixo, algumas dicas:

Tindin: aplicativo de educação financeira infantojuvenil para uso familiar, com recursos de mesada educativa (dinheiro real e fictício), controle de tarefas, investimentos lúdicos, marketplace e carteira digital.

Poupadin: jogo virtual cujo objetivo é ensinar educação financeira de maneira divertida e didática para as crianças. O jogo consiste em ensiná-las técnicas básicas de finanças pessoais, tais como, montar um orçamento e planejamento adequado para iniciar uma poupança para atingir determinado objetivo. 

O Meu Banco: aplicativo para controle de mesada para crianças. A plataforma cria um banco fictício, adaptado para o jovem, enquanto os pais podem estipular a quantidade da mesada e firmar um “contrato” com as regras que precisam ser seguidas para o pagamento do dinheiro todo mês.

Mooney: aplicativo de educação financeira divertido e prático. Com ele, é possível criar cofrinhos para gerenciar objetivos, missões para entender o valor do dinheiro e, na jornada, adquirir conhecimento sobre finanças. 

E aí, gostou das dicas? Compartilhe nos comentários suas experiências e dúvidas sobre o tema 💙

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